quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
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Sento à minha mesa. Pego uma folha de papel. Não, melhor pegar mais, dez. Pego uma caneta. Não, não, lápis e borracha. Melhor pegar um apontador também, não quero ser interrompida por uma ponta de lápis quebrada. Tiro meus sapatos. Acomodo-me melhor na cadeira, para que todos os músculos do meu corpo estejam confortáveis. Posiciono melhor a luz, afinal, o sol já se pôs há algum tempo e quero poder ler legivelmente o que escrevo. Ponho o lápis em mãos, e fixo meu olhar no papel. Escrevo com a letra desregular: "Estou aqui escrevendo essa carta para" e percebo que estou muito nervosa. Um cigarro e uma taça de vinho não iriam cair mal. Direciono-me à cozinha, pego a taça, despejo um pouco de vinho, não preciso de muito. Tomo um gole e me pergunto onde estão meus Marlboros. Na mesa da sala, é claro. Aproveito e pego o cinzeiro, claro. Sorte que meu isqueiro está no bolso. Acendo o cigarro pensando que preciso parar de fumar, mas sem ela o vício voltava. Retorno à mesa de estudos. Olho novamente para o papel com aquelas palavras quase ilegíveis. Jogo o papel fora e pego outro. Começo: "Minha querida, não consigo acreditar que você está feliz ao lado
dela. Não só não consigo acreditar como aceitar esse fato. Estou me afundando em meus vícios e em mim mesma. Qual é o problema que eu tenho que me impede de possuir-te?". Tomo mais um gole de vinho, e acendi mais um cigarro. Neste instante as lágrimas eram inevitáveis. Depois de seis meses, é a primeira vez que admito sofrer a falta dela, do meu amor, da minha querida. É a primeira carta, também. Ainda não tenho certeza se será enviada. Quem sabe eu desista de escrever e saia hoje mesmo com meus amigos? Eles me chamaram hoje para um bar e eu disse que não queria sair. Mas eu preciso esquecê-la. Preciso viver minha vida. Uma carta não irá mudar nada depois de tudo que eu tentei. Apago o cigarro e largo a taça em cima da mesa. Ligo confirmando minha presença e pergunto se ainda posso aparecer lá. Eles disseram que sim, que estão aguardando a minha presença. Ligo o som, e escolho minha cantora favorita: Billie Holiday. Com toda a sua melancolia, é a única que me deixa com vontade de viver. Vou direto para meu quarto, escolho meu melhor vestido. Ela sempre dizia que era o que ficava melhor em mim. A última vez que o usei foi com ela... Mas estou decidida. Irei esquecê-la, para sempre. Tomo um bom banho, lavo meus cabelos. Ouço a campainha tocar. Será que eles vieram me buscar para o bar? Desligo o som e me direciono à porta. Abro, ainda de toalha, e deparo-me com ela. Ela estava com o olhar perdido, olheiras profundas, cabelo bagunçado. Ela pergunta sem olhar nos meus olhos "Posso entrar?". Eu apenas balanço a cabeça, dizendo sim. Ela diz "Eu venho aqui para pedir desculpas. Eu percebi o erro que cometi. E com esse erro percebi que você é a pessoa que eu preciso... Eu te amo!". Ouvindo essas palavras esqueço tudo que pensei anteriormente. Não quero esquecê-la, não quero ficar com outras pessoas, quero ela, só ela. E como se pudesse ler meus pensamentos, ela se aproximou e me deu um longo beijo... Disse no meu ouvido "Por favor, diz que você não está com ninguém. Diz que eu ainda posso ser sua...". Eu respondo "Claro que você é minha. Não existe espaço para mais ninguém no meu coração.". Ela se afasta um pouco, olha ao redor, vê o maço de cigarro e a taça de vinho e diz "Vejo que você voltou a beber e a fumar...". "É a sua falta que faz isso, meu bem." respondo. "Podemos começar de novo?". "Sim, sempre.". Beijamos novamente, mas agora por todos os cômodos da casa. Enquanto andamos e beijamos ela conta o que aconteceu na sua vida e eu conto o que aconteceu na minha. Chegamos a meu quarto, ela vê o vestido estendido na minha cama e pede para usá-lo. Rapidamente visto. Ela dá um sorriso e diz "Você fica linda neste vestido!". Decido cancelar meus planos. Não vou mais ao bar. Vou ficar por aqui, com minha querida. Ligo o som novamente, ela também adora Billie Holiday. Deixamos o som rolar, enquanto nos deliciamos com nosso amor...
Eu e ela ás
13:25,